As guerras dos índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924)
Existe hoje no Paraná mais de vinte Terras Indígenas, ocupando as diversas regiões do estado desde o litoral até as margem do rio Paraná, abrigando uma população em torno de doze mil índios entre Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. A evidente presença indígena no Paraná não foi registrada pela história da região e o objetivo da primeira parte deste trabalho é mostrar como se construiu a idéia do vazio demográfico. Pois, na maioria dos discursos oficiais, em livros didáticos, nas obras sobre o pioneirismo, nos trabalhos acadêmicos que tratam da ocupação/colonização regional a partir de 1930, é comum se encontrar a afirmação de que essas terras eram "devolutas", "selvagens", "desabitadas", "estavam abandonadas", eram "virgens", "selváticas", um "sertão bravio". Dessa forma elas estavam desabitadas, vazias, prontas para serem ocupadas e colonizadas. É o mito do vazio demográfico. Ao lado dessa falácia, a sociedade envolvente apagou um dos sujeitos da história: os povos indígenas. A ocupação da região é tida como pacífica, sem lutas ou resistências, uma vez que, os povos indígenas simplesmente não existiam. Isso é o que demonstramos na primeira parte desse livro. Na segunda e terceira partes, buscaremos resgatar a presença e a resistência indígena, tendo como marco suas relações interculturais com a sociedade envolvente. Abordaremos as formas de luta e resistência dentro da perspectiva histórica/antropológica que considera as ações das sociedades indígenas enquanto ações políticas, mesmo que assimétricas. Essa perspectiva põe em relevo a capacidade política das sociedades indígenas de pensar suas relações com o outro. Sua capacidade de serem sujeitos de sua própria história, de desenvolverem políticas para manterem seus territórios e a sua continuidade enquanto populações diferenciadas entre si e dos brancos. Suas relações interculturais com os agentes da conquista implicaram em mudanças culturais internas, mas não se deve colocar a subordinação enquanto uma resultante absoluta do contato. Não ocorreu a homogeneização esperada e nem sua dissolução total na sociedade nacional. Os grupos indígenas no Paraná reelaboraram suas concepções de sociedade e de mundo, mas mantiveram suas línguas, parcelas de seus territórios, seus modos próprios de ocupação do espaço e construção do tempo mesmo que relacionada a novos contextos históricos.
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As guerras dos índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924)
Existe hoje no Paraná mais de vinte Terras Indígenas, ocupando as diversas regiões do estado desde o litoral até as margem do rio Paraná, abrigando uma população em torno de doze mil índios entre Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. A evidente presença indígena no Paraná não foi registrada pela história da região e o objetivo da primeira parte deste trabalho é mostrar como se construiu a idéia do vazio demográfico. Pois, na maioria dos discursos oficiais, em livros didáticos, nas obras sobre o pioneirismo, nos trabalhos acadêmicos que tratam da ocupação/colonização regional a partir de 1930, é comum se encontrar a afirmação de que essas terras eram "devolutas", "selvagens", "desabitadas", "estavam abandonadas", eram "virgens", "selváticas", um "sertão bravio". Dessa forma elas estavam desabitadas, vazias, prontas para serem ocupadas e colonizadas. É o mito do vazio demográfico. Ao lado dessa falácia, a sociedade envolvente apagou um dos sujeitos da história: os povos indígenas. A ocupação da região é tida como pacífica, sem lutas ou resistências, uma vez que, os povos indígenas simplesmente não existiam. Isso é o que demonstramos na primeira parte desse livro. Na segunda e terceira partes, buscaremos resgatar a presença e a resistência indígena, tendo como marco suas relações interculturais com a sociedade envolvente. Abordaremos as formas de luta e resistência dentro da perspectiva histórica/antropológica que considera as ações das sociedades indígenas enquanto ações políticas, mesmo que assimétricas. Essa perspectiva põe em relevo a capacidade política das sociedades indígenas de pensar suas relações com o outro. Sua capacidade de serem sujeitos de sua própria história, de desenvolverem políticas para manterem seus territórios e a sua continuidade enquanto populações diferenciadas entre si e dos brancos. Suas relações interculturais com os agentes da conquista implicaram em mudanças culturais internas, mas não se deve colocar a subordinação enquanto uma resultante absoluta do contato. Não ocorreu a homogeneização esperada e nem sua dissolução total na sociedade nacional. Os grupos indígenas no Paraná reelaboraram suas concepções de sociedade e de mundo, mas mantiveram suas línguas, parcelas de seus territórios, seus modos próprios de ocupação do espaço e construção do tempo mesmo que relacionada a novos contextos históricos.